CORONEL MONTENEGRO: diário - Revista Recibo
2011
Foi o suor na bermuda na região da virilha que suscitou meu movimento. Não agüentei. Um homem de bermuda sem nada por baixo não tem o direito de ter marca de suor na virilha. Meu uniforme é de sarja selada e eu não tenho marca de suor na virilha. É tudo rigorosamente contido. Aquele membro solto às graças da brisa outonal fatiando a luz do sol da tarde penetrando a bermuda através das costuras gastas; o semblante de alegria e o sorriso indisciplinado, solto também, eram conseqüências diretas do membro sem contenção – eu sei – sem amarras, de semi-rigidez mole – eu vi, observei, conferi – advinda da circulação sanguínea correndo ao passo do movimento na luz outonal atravessada pela graça da brisa que fatiava a austeridade da arquitetura da base militar. Que absurdo! O prazer solto e fluente é um afronte ao Homem. Havia uma mulher a seu lado que respondia àquele sorriso e era quase visível o aumento da carga hormonal em seu corpo, os seios tornando-se mais tenros e os cheiros mais fortes. Uma puta, de certo, pois não vi nenhum sinal de compromisso matrimonial em sua mão, que roçava a cintura e os ombros também suados do homem. Nojento. Tive que intervir. Se tinha algo de errado em eles percorrerem a base militar para contemplar a arquitetura? Claro que tinha! A base, desativada hoje é aberta, mas a afronta da incontinência moral e disciplinar era um problema gravíssimo sim! Não agüentei. Tive que intervir. A contenção. Aquele semblante solto às graças. A brisa que suaviza a luz daquela tarde de outono que via desde dentro da base, desde dentro do desejo, uniforme, desde a sarja selada.