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Textos transitáveis | Espaços transitivos - Images festival and WARC, Toronto

2007

São inúmeras as afirmações sobre as impossibilidades da tradução, seus limites, sua incapacidade de transferir com fidelidade um significado de um signo de uma língua para outra.

 

À vista de Jackobson, ao traduzir uma língua para outra, substituem-se mensagens em uma das línguas não por unidades de códigos separadas, mas por mensagens inteiras de outra língua. Tal tradução é uma maneira de discurso indireto: o tradutor recodifica e transmite uma mensagem recebida de outra fonte. Assim, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes. A equivalência na diferença é o problema principal da linguagem  e a principal preocupação da Lingüística[1]; é também o principal foco de atenção em  Translations | Traduções.

 

Vemos o processo de transposição dos trabalhos de seus contextos específicos para outro como um processo de tradução. O contexto especifico, aqui, diz respeito não somente às esferas sociais, políticas e culturais que enquadram o lugar onde as artistas elaboraram seus projetos, mas também do aspecto site-specific de cada um deles. Raquel Garbelotti disjunta o mecanismo do que poderia ser uma pesquisa antropológica sobre os Pomeranos na região do Espítirto Santo; Alice Micelli pretende dar visualidade à invisibilidade radioativa da zona de exclusão de Chernobyl; Giselle Beiguelman e Vera Bighetti apontam para o imediatismo do entendimento das possibilidades do espaço virtual definido pelas limitações do espaço físico.

 

O que se enuncia no caso de transposição/tradução dos trabalhos para as especificidades de um outro contexto (Toronto) é uma topografia irregular de conceitos, de intenções, de abordagens ao fazer artístico, que resistem a uma tradução de adjetivação (como do tipo Brazilian, women artists’ works), para uma de substantivação: o substantivo, the noun; o que há de substancial nas propostas intelectuais e artísticas de cada trabalho.

 

Ou seja, entendemos que o risco de um achatamento dessa topografia irregular seria um gesto tecnocrático e desatento frente à possibilidade de compreensão  sobre a força criativa que emerge do espaço entre um sistema de significação e outro. Numa tradução não há caminhos fáceis, de equivalência direta, já que cada língua tem seus próprios sistemas de significar.  O projeto tradutor - entendido aqui tanto como suporte conceitual para apresentação dos trabalhos nesse trânsito linguístico e espacial, quanto como a “tradução” de um conceito inicial em qualidade (i)material nos trabalhos das artistas – se apresenta como projeto “constelativo entre diferentes presentes, e como tal, desviantes e descentralizadores”[2].

 

E como não seriam desviantes se tratamos aqui de uma topografia antropologicamente imaginada/ficcionada (Garbelotti), uma topografia invisível (Micelli) e uma topografia improvável (Beiguelman & Bighetti)? Translations | Traduções é uma operação que acontece entre lugares; um itinerário que procura mostrar as filiações textuais e institucionais e dos corpos que se movem entre elas, sobretudo o do artista. É um informational site[3], um locus de sobreposições de textos, fotografias, vídeos, espaços físicos e coisas.

 

Da suposta incomensurabilidade dos sistemas, a tradução figura como locus para investigar o contato intercultural a partir de intrusões, fusões e disjunções. A tradução é um site privilegiado para se investigar as relações de poder e alteridade.

 

Tentamos não arriscar fazer um desvio semântico do termo, e sim uma dilação semântica dos limites da tradução como possibilidades, como forma plástica e viva com a qual se aborda os projetos artísticos presentes nessa exposição.

 


 

[1] Roman Jackbson, Lingüística e Comunicação. (São Paulo: Editora Cultrix), pág. 65

[2] Jorge Menna Barreto. Lugares Moles. Dissertação de Mestrado defendida na Escola de Comunicação e Artes – Universidade de São Paulo, 2007. Orientadora Ana Maria Tavares.

[3] Ver James Mayer, “The functional site” in Documents Magazine, EUA, 1996, pág. 20-29. Apud Jorge Menna Barreto, op. cit.  pág. 12

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