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Foto do escritorDaniela Castro

ELXS

e não é que na língua portuguesa, quando interrompemos a dominância do gênero masculino e rasuramos a hegemonia patriarcal na encruzilhada, não é que dá eus?

Fala em voz alta, bem com o L no céu da boca, como se fosse imitar o sotaque do português europeu: 

elxs: dá um monte de eus.

Quando explode o horizonte patriarcal do “I” sempre maiúsculo, sempre másculo, sempre autor da sua própria auto-importância, mantenedor da engrenagem do holocausto colonial, esse I centro de gravidade do masculino default colapsa em um monte de presenças. eus que não estão preocupadxs por quais orifícios sentimos e proporcionamos prazer. eus penetráveis. Uma coletividade de comigos, de tamojuntx radical; coletividade de presenças. Tipo quando o Neo dá uma voadora de xana no Mr. Anderson, olimpicamente mergulhando naquele código matriz, reescrevendo o código, traduzindo-o e transmutando tudo naquela penetração total. Séxêêê! Mas essa analogia é ainda a do herói do self important I (“Neo”, sério?). Infeliz da nação que precisa inventar heróis para sobreviver. Infeliz e tóxica. Acende história e barbárie. Que desperdício de courovinil colado naquelas coxas e bundas narcisistas e deliciosas. O nosso elxs alinha mais com o lobisomem abstinente com sede de vampiro do Roque Santeiro; ou com Bandido da Luz Vermelha que bebe tinta preta; ou com o Orlando da Wolf; ou ainda Riobaldo, só podendo segurar aquela onda de ser o primeiro romance gay do Brasil porque o mesmo Brasil gerou as Dzi Croquettes. Até choro. É com esse penetrável de purpurina das Dzi que a gente tem que se abraçar pra perdurar em tempos de genocídio e desmanche sulfúrico. Ninguém solta a mão de ninguém.

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